Não
podemos deixar de ver como um sinal da Providência que vós, Papa Francisco e
Irmãos Bispos que representais toda a Igreja, vos tenhais reunido precisamente
no mesmo dia em que celebramos a memória de São Pedro Damião. Este grande monge,
no século XI, usou toda a sua força e o seu zelo apostólico para renovar a
Igreja do seu tempo, profundamente corrompida pelos pecados de sodomia e
simonia. Fê-lo com a ajuda de fiéis Bispos e leigos, em particular com o apoio
do Abade Hildebrand, da Abadia de São Paulo fora dos Muros, o futuro Papa São
Gregório Magno.
Permiti que proponha para a vossa meditação as palavras do nosso caro Papa Emérito Bento XVI endereçadas ao povo de Deus na audiência geral de quarta-feira 17 de Maio de 2006, comentando exactamente o excerto do Evangelho de Marcos 8, 27-33 que proclamamos na Missa de hoje.
“Pedro vive outro momento significativo no seu caminho espiritual nas proximidades de Cesareia de Filipe, quando Jesus faz aos discípulos uma pergunta concreta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» (Mc 8, 27). Mas para Jesus não era suficiente a resposta do ter ouvido dizer. Daqueles que aceitaram comprometer-se pessoalmente com Ele pretende uma tomada de posição pessoal. Por isso insiste: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mc 8, 29).
Responde Pedro também em nome dos outros: «Tu és o Messias» (ibid.), isto é, Cristo. Esta resposta de Pedro, que não veio “da carne e do sangue” dele, mas foi-lhe concedida pelo Pai que está no céu (cf. Mt 16, 17), tem em si, como que em gérmen, a futura confissão de fé da Igreja. Contudo, Pedro ainda não tinha compreendido o conteúdo profundo da missão messiânica de Jesus, o novo sentido desta palavra: Messias.
Demonstra-o pouco depois, deixando compreender que o Messias que persegue nos seus sonhos é muito diferente do verdadeiro projecto de Deus. Perante o anúncio da paixão escandaliza-se e protesta, suscitando uma reacção enérgica de Jesus (cf. Mc 8, 32-33).
Pedro quer um Messias “homem divino”, que cumpra as expectativas do povo impondo a todos o seu poder: é também nosso desejo que o Senhor imponha o seu poder e transforme imediatamente o mundo; Jesus apresenta-se como o “Deus humano”, o servo de Deus, que altera as expectativas da multidão encaminhando-se por uma via de humildade e de sofrimento.
É a grande alternativa, que também nós devemos aprender sempre de novo: privilegiar as próprias expectativas recusando Jesus ou acolhendo Jesus na verdade da sua missão e abandonando as expectativas demasiado humanas.
Pedro, impulsivo como é, não hesita em repreender Jesus separadamente. A resposta de Jesus abala todas as suas falsas expectativas, quando o chama à conversão e ao seguimento: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens» (Mc 8, 33). Não me indiques tu o caminho, eu sigo o meu percurso e tu põe-te atrás de mim.
Pedro aprende, desta forma, o que significa verdadeiramente seguir Jesus. É a sua segunda chamada, análoga à de Abraão em Gn 22, depois de Gn 12: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la, mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la» (Mc 8, 34-35). É a lei exigente do seguimento: é preciso saber renunciar, se for necessário, ao mundo inteiro para salvar os verdadeiros valores, para salvar a alma, para salvar a presença de Deus no mundo (cf. Mc 8, 36-37). Mesmo com dificuldade, Pedro aceita o convite e prossegue o seu caminho seguindo os passos do Mestre.
Parece-me que estas diversas conversões de São Pedro e toda a sua figura são de grande conforto e um forte ensinamento para nós. Também nós sentimos o desejo de Deus, também nós queremos ser generosos, mas também nós esperamos que Deus seja forte no mundo e transforme imediatamente o mundo segundo as nossas ideias, segundo as necessidades que vemos.
Deus escolhe outro caminho. Deus escolhe o caminho da transformação dos corações no sofrimento e na humildade. E nós, como Pedro, devemos converter-nos sempre de novo. Devemos seguir Jesus em vez de o preceder: é Ele quem nos indica o caminho.
Assim, Pedro diz-nos: Tu pensas que tens a receita e que deves transformar o cristianismo, mas é o Senhor quem conhece o caminho. É o Senhor que diz a mim, diz a ti: segue-me! E devemos ter coragem e humildade para seguir Jesus, porque Ele é o caminho, a Verdade e a Vida”.
Maria, Mater Ecclesiae, Ora pro nobis.
Maria, Regina Apostolorum, Ora pro nobis.
Maria, Mater Gratiae, Mater Misericordiae, Tu nos ab hoste protege et mortis hora suscipe.
† Carlo Maria Viganò
Arcebispo Titular de Ulpiana
Núncio Apostólico
21 de Fevereiro de 2019, memória de São Pedro Damião
Permiti que proponha para a vossa meditação as palavras do nosso caro Papa Emérito Bento XVI endereçadas ao povo de Deus na audiência geral de quarta-feira 17 de Maio de 2006, comentando exactamente o excerto do Evangelho de Marcos 8, 27-33 que proclamamos na Missa de hoje.
“Pedro vive outro momento significativo no seu caminho espiritual nas proximidades de Cesareia de Filipe, quando Jesus faz aos discípulos uma pergunta concreta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» (Mc 8, 27). Mas para Jesus não era suficiente a resposta do ter ouvido dizer. Daqueles que aceitaram comprometer-se pessoalmente com Ele pretende uma tomada de posição pessoal. Por isso insiste: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mc 8, 29).
Responde Pedro também em nome dos outros: «Tu és o Messias» (ibid.), isto é, Cristo. Esta resposta de Pedro, que não veio “da carne e do sangue” dele, mas foi-lhe concedida pelo Pai que está no céu (cf. Mt 16, 17), tem em si, como que em gérmen, a futura confissão de fé da Igreja. Contudo, Pedro ainda não tinha compreendido o conteúdo profundo da missão messiânica de Jesus, o novo sentido desta palavra: Messias.
Demonstra-o pouco depois, deixando compreender que o Messias que persegue nos seus sonhos é muito diferente do verdadeiro projecto de Deus. Perante o anúncio da paixão escandaliza-se e protesta, suscitando uma reacção enérgica de Jesus (cf. Mc 8, 32-33).
Pedro quer um Messias “homem divino”, que cumpra as expectativas do povo impondo a todos o seu poder: é também nosso desejo que o Senhor imponha o seu poder e transforme imediatamente o mundo; Jesus apresenta-se como o “Deus humano”, o servo de Deus, que altera as expectativas da multidão encaminhando-se por uma via de humildade e de sofrimento.
É a grande alternativa, que também nós devemos aprender sempre de novo: privilegiar as próprias expectativas recusando Jesus ou acolhendo Jesus na verdade da sua missão e abandonando as expectativas demasiado humanas.
Pedro, impulsivo como é, não hesita em repreender Jesus separadamente. A resposta de Jesus abala todas as suas falsas expectativas, quando o chama à conversão e ao seguimento: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens» (Mc 8, 33). Não me indiques tu o caminho, eu sigo o meu percurso e tu põe-te atrás de mim.
Pedro aprende, desta forma, o que significa verdadeiramente seguir Jesus. É a sua segunda chamada, análoga à de Abraão em Gn 22, depois de Gn 12: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la, mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la» (Mc 8, 34-35). É a lei exigente do seguimento: é preciso saber renunciar, se for necessário, ao mundo inteiro para salvar os verdadeiros valores, para salvar a alma, para salvar a presença de Deus no mundo (cf. Mc 8, 36-37). Mesmo com dificuldade, Pedro aceita o convite e prossegue o seu caminho seguindo os passos do Mestre.
Parece-me que estas diversas conversões de São Pedro e toda a sua figura são de grande conforto e um forte ensinamento para nós. Também nós sentimos o desejo de Deus, também nós queremos ser generosos, mas também nós esperamos que Deus seja forte no mundo e transforme imediatamente o mundo segundo as nossas ideias, segundo as necessidades que vemos.
Deus escolhe outro caminho. Deus escolhe o caminho da transformação dos corações no sofrimento e na humildade. E nós, como Pedro, devemos converter-nos sempre de novo. Devemos seguir Jesus em vez de o preceder: é Ele quem nos indica o caminho.
Assim, Pedro diz-nos: Tu pensas que tens a receita e que deves transformar o cristianismo, mas é o Senhor quem conhece o caminho. É o Senhor que diz a mim, diz a ti: segue-me! E devemos ter coragem e humildade para seguir Jesus, porque Ele é o caminho, a Verdade e a Vida”.
Maria, Mater Ecclesiae, Ora pro nobis.
Maria, Regina Apostolorum, Ora pro nobis.
Maria, Mater Gratiae, Mater Misericordiae, Tu nos ab hoste protege et mortis hora suscipe.
† Carlo Maria Viganò
Arcebispo Titular de Ulpiana
Núncio Apostólico
21 de Fevereiro de 2019, memória de São Pedro Damião
Uma tradução de Dies Iræ.
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«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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