Nos Padres da Igreja, é possível encontrar um
comentário surpreendente ao cântico com que os anjos saúdam o Redentor. Até
àquele momento – dizem os Padres – os anjos tinham conhecido Deus na grandeza
do universo, na lógica e na beleza do cosmos que provêm d’Ele e O reflectem.
Tinham acolhido por assim dizer o cântico de louvor mudo da criação e tinham-no
transformado em música do céu. Mas agora acontecera um facto novo, até mesmo
assombroso para eles. Aquele de quem fala o universo, o próprio Deus que tudo sustenta
e traz na sua mão, Ele mesmo entrara na história dos homens, tornara-Se um que
age e sofre na história. Do jubiloso assombro suscitado por este facto
inconcebível, por esta segunda e nova maneira em que Deus Se manifestara –
dizem os Padres – nasceu um cântico novo, tendo o Evangelho de Natal conservado
uma estrofe para nós: «Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos
homens». Talvez se possa dizer, segundo a estrutura da poesia hebraica, que
este versículo nas suas duas frases diz fundamentalmente a mesma coisa, mas
duma perspectiva diversa. A glória de Deus está no alto dos céus, mas esta
sublimidade de Deus encontra-se agora no curral, aquilo que era humilde
tornou-se sublime. A sua glória está sobre a terra, é a glória da humildade e
do amor. Mais ainda: a glória de Deus é a paz. Onde está Ele, lá está a paz.
Ele está lá onde os homens não querem fazer, de modo autónomo, da terra o
paraíso, servindo-se para tal fim da violência. Ele está com as pessoas de
coração vigilante; com os humildes e com aqueles que correspondem à sua
elevação, à elevação da humildade e do amor. A estes dá a sua paz, para que,
por meio deles, entre a paz neste mundo.
Bento XVI, in Homilia da Missa da Noite, 25 de Dezembro de 2008
Bento XVI, in Homilia da Missa da Noite, 25 de Dezembro de 2008
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