A
Congregação para as Causas dos Santos promulgou, a 21 de Janeiro, alguns
decretos, aprovados pelo Papa Francisco, que reconhecem as virtudes heróicas de
diversas figuras. Entre estas está o geneticista Jérôme Lejeune (1926-1994),
conhecido, em todo o mundo, por ter descoberto o gene da síndrome de Down, mas
também por ter lutado contra todo o tipo de lei a favor do aborto. O Papa
autorizou o decreto da Congregação para as Causas dos Santos que reconhece «as
virtudes heróicas do Servo de Deus Jérôme Lejeune, fiel leigo; nasceu, a 13 de Junho
de 1926, em Montrouge, França, e morreu, em, Paris a 3 de Abril de 1994».
Lejeune foi o primeiro presidente da Pontifícia Academia para a Vida (embora
por apenas dois meses, de Fevereiro de 1994 a 3 de Abril, quando morreu),
nomeado por João Paulo II, que se recolheu no seu túmulo, em França, em 1997,
por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Muitos se perguntam se foi a luta
contra o aborto do Prof. Lejeune a custar-lhe o reconhecimento do Prémio Nobel pela
sua descoberta da Trissomia 21.
Através de Corrispondenza Romana
sábado, 23 de janeiro de 2021
Jérôme Lejeune, geneticista francês, foi declarado Venerável
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
O declínio da democracia
Os recentes
factos dos Estados Unidos estão, sem dúvida alguma, entre os mais importantes
das últimas décadas. E não me refiro às acusações de fraude nas últimas
eleições presidenciais, nem aos graves conflitos que tal facto produzirá nos
próximos quatro anos de governo.
É muito mais importante o que está a acontecer em relação à perda da liberdade
de expressão, à imposição ou à rejeição de algumas ideias políticas e à
proibição totalitária de determinadas formas de pensamento. Pela primeira vez, manifesta-se,
publicamente, um poder oculto e misterioso, que, agora, é o senhor das
comunicações globais, que nos quer impor, de forma autoritária, aquilo que
podemos ou não podemos expressar publicamente.
Trata-se das chamadas redes sociais, que se autoproclamaram como “a voz de quem
não tem voz”, em aberta rebelião contra os grandes meios de comunicação. Em
todo o mundo, a TV, os jornais e as principais rádios tornaram-se instrumentos para
a divulgação de indizíveis falsidades ou, por dinheiro, colocaram-se ao serviço
das piores causas políticas. Pois bem, nos últimos anos, as redes sociais levantaram-se
contra os grandes meios e privaram-nos do poder absoluto que exerciam, pois com
eles todos podem divulgar as suas próprias análises e notícias, mostrando, ao
mundo, realidades silenciadas ou distorcidas pelo monopólio dos grandes meios.
As redes sociais e a sua grande influência mundial
O poder e a influência que as redes sociais alcançaram, transformaram-nas num
verdadeiro gigante da informação, inclusive os servidores de internet que
permitem o seu funcionamento, de tal forma que passaram a influenciar o quotidiano
de biliões de pessoas em todo o mundo. Consequentemente, os seus proprietários
entraram no selecto e reduzido grupo das pessoas mais poderosas, influentes e
ricas do planeta.
Como era de se esperar, num determinado momento, este poder deveria
manifestar-se. De facto, para que serve o poder senão para comandar? E, então, no
meio do actual conflito norte-americano, o presidente dos Estados Unidos,
considerado o homem mais poderoso do planeta, foi posto de joelhos por estes misteriosos
personagens. Agora, são eles a decidir aquilo que as pessoas devem pensar, são
eles a impor as ideias que se devem divulgar, censurando, implacavelmente, quem
se atreve a contradizê-las. Assim, foram encerradas as contas pessoais do
Twitter, Snapchat e Facebook do presidente Trump, juntamente com o seu canal YouTube
e todos os outros canais de comunicação do presidente dos Estados Unidos. E
também as contas oficiais da presidência dos EUA.
Estes factos deveriam ser uma gravíssima campainha de alarme
Se fizeram isto com o presidente Trump, o que poderão fazer com cada um de
nós? Criou-se um Moloque que manipula, dirige e estabelece, a seu gosto, as
regras de funcionamento destes meios, e, agora, este monstro dita o que podemos
comunicar através deles. Se não obedecemos às suas directrizes e insistimos em
pensar de modo independente, faz-nos desaparecer sem direito a qualquer
resposta. E, o que é ainda mais grave, tal Moloque lança raios e setas contra os
seus críticos, desencadeando, contra eles, todas as perseguições do poder
político e judicial, os seus mais recentes e perigosos aliados.
Este é o caminho escuro, cheio de perplexidade e apreensões, a que nos conduz
este enigmático século XXI. Paradoxalmente, somam-se a isso as consequências da
pandemia chinesa do coronavírus, que se apoderou do mundo, pois, diante do
terror do contágio, da doença e da morte, o mundo está, gradativamente, a
renunciar às suas mais preciosas liberdades.
Pôs-se fim às viagens, às festas, aos restaurantes e aos bares. Todos os desportos
ficaram sem público, assim como os grandes concertos e as manifestações
culturais. É-nos imposto que fiquemos em casa e até se chega ao ponto de nos
proibirem de ver familiares e amigos. As empresas fecham, os postos de trabalho
reduzem-se, a gente comum está em estado de extrema necessidade e o poder dos
governantes é cada vez mais arbitrário e ditatorial. No final, a indomável
liberdade, que era a essência do mundo contemporâneo, é desfeita e todos acabam
por obedecer e respeitar as medidas impostas.
O nome que damos a esta gigantesca transformação psicológica e psicopolítica pouco
importa. Poderíamos chamar-lhe Nova Ordem Mundial, Gran Reset, Engenharia
Social, Deep State ou o que for, mas é, sem dúvida, claro que o mundo, tal como
o conheceram as gerações adultas, não voltará a ser o mesmo. E, sempre com absoluta
certeza, considerando a invasão produzida por tais poderes ocultos que, agora, aparecem
com maior força e determinação, a sociedade avança, de forma vertiginosa, para
a perda das liberdades.
A pandemia e os senhores das redes sociais ameaçam a liberdade
Quando escrevemos uma mensagem nas redes, este poder oculto lê-nos; se falamos
ao telefone, ouve-nos; quando saímos para a rua, filma-nos; se viajamos, sabe
perfeitamente para onde vamos; se vemos TV, monitoriza-nos para conhecer as
nossas preferências; se nos ligamos à internet, sabe o que nos interessa.
Embora isto não seja nada de novo, já que se verifica há alguns anos, a grande novidade
é que, agora, se começa a perseguir aqueles que não estão em comunhão com o
novo sistema que se quer impor ao mundo.
A consequência do que estamos a viver é que o mundo funcionará assim. Então,
para que serve a democracia? Este sistema de governo já está a corroer pelo absoluto
descrédito, devido aos níveis de corrupção alcançados pelos seus mais eminentes
e reconhecidos representantes. Estas, as elites decadentes da classe política,
são as pessoas mais desprezadas em quase todos os países e, cada vez mais, a
sua credibilidade é menor. Sem dúvida, o que parecia ser uma das maiores
transformações da nossa época é o declínio da democracia. E, com isso, surgirá
uma nova e sofisticada forma de totalitarismo, que terá a tecnologia e o
controlo das redes sociais como principal instrumento de submissão.
Eugenio Trujillo
Através de Fatima Oggi
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
2021, ano de Stefan Wyszyński, o cardeal do “Non possumus”
O
Parlamento polaco declarou 2021 o ano do Cardeal Wyszyński. A resolução, na
qual se define Stefan Wyszyński «um dos maiores polacos do século XX»,
foi aprovada, por uma larguíssima maioria, tanto pelo Sejm (a Câmara baixa)
quanto pelo Senado.
Na resolução da Câmara, lê-se: «Na sua actividade sacerdotal, o Primaz do
Milénio prestou atenção à dignidade intrínseca do homem, fonte de todos os seus
direitos».
O Cardeal Wyszyński é conhecido como o Primaz do Milénio porque, como Primaz da
Polónia, teve a tarefa de organizar as celebrações nacionais por ocasião do milénio
do baptismo da Polónia, que aconteceram em 1966.
A resolução da Câmara também elogia o cardeal pela sua granítica defesa da
independência da Igreja sob o comunismo. É célebre a sua carta, de 1953, ao
líder comunista polaco Bolesław Bierut, na qual, recusando-se a subordinar a
Igreja às autoridades civis comunistas, escreveu Non possumus! (nós não
podemos). Depois disso, foi preso.
Homem de profunda fé e amor pela Igreja e pela pátria, o cardeal procurou um acordo
com as autoridades, mas, quando o regime ameaçou os direitos da Igreja e dos
fiéis, não quis chegar a compromissos, pagando pessoalmente. Assim, tornou-se o
símbolo de uma inabalável oposição à prepotência do poder secular e ao mal.
«É impossível – diz a resolução adoptada pelo Senado palaco – descrever
detalhadamente os méritos e o papel que o Primaz Stefan Wyszyński teve,
naqueles anos, para a Polónia e a Igreja. Ele e João Paulo II foram, juntos, os
grandes mestres da nação e apoiaram os polacos nos momentos mais difíceis da
história da nossa pátria».
O cardeal, continua a resolução, «cuidou do destino da Igreja polaca, nos
anos mais sombrios do estalinismo, com um cuidado excepcional. Pela sua atitude
decidida para com as autoridades comunistas, pela sua oposição à destruição da
vida social e eclesial, expressa nas famosas palavras Non possumus, esteve
vários anos preso».
Em 2021, assinala-se o 120.º aniversário do nascimento do Cardeal Wyszyński e o
quadragésimo da sua morte.
Nasceu, a 3 de Agosto de 1901, em Zuzela, a Nordeste de Varsóvia. Antes da
Segunda Guerra Mundial, empenhou-se, em actividades educativas e sociais, com os
sindicatos cristãos e organizou a União Católica dos Jovens Trabalhadores.
Durante a guerra, tornou-se membro do Exército Nacional, o movimento de resistência
clandestina da Polónia, servindo, como capelão, num hospital para revoltosos,
em Laski, perto de Varsóvia.
Em 1946, o Papa Pio XII nomeou-o Bispo de Lublin e, dois anos depois, Arcebispo
de Gniezno e Varsóvia.
Em 1953, foi nomeado cardeal e, no mesmo ano, foi preso; libertado, em 1956,
promoveu um acordo entre a Igreja e o governo de Gomulka, evitando, assim, a
intervenção armada soviética, que se deu, pouco tempo depois, na Hungria.
A partir de 1957, preparou as solenes celebrações do milénio do cristianismo na
Polónia, ocorridas em 1966. Líder da Igreja polaca por mais de trinta anos,
esteve à frente da oposição ao comunismo, em defesa dos direitos humanos e dos
trabalhadores, e viu reconhecido o seu papel como líder religioso e político
com a eleição de João Paulo II.
O Cardeal Wyszyński serviu como Primaz da Polónia até à sua morte, em Varsóvia,
a 28 de Maio de 1981, poucos meses após a fundação do sindicato Solidarnosc,
que levaria ao colapso do comunismo polaco em 1989.
Entrando em conclave quatro vezes (1958, 1963 e duas em 1978), foi considerado,
no segundo conclave de 1978, papável, mas, segundo algumas reconstruções, foi
ele quem indicou, como sucessor do Papa Luciani, o Arcebispo de Cracóvia, Karol
Wojtyła.
A sua causa de beatificação foi aberta, em 1989, e, a 3 de Outubro de 2019, o
Vaticano anunciou a aprovação de um milagre atribuído à intercessão do cardeal.
O milagre diz respeito à recuperação, cientificamente inexplicável, em 1989, de
uma jovem, de dezanove anos, afectada por um cancro da tiróide. Depois de os
médicos terem dito que a doença era incurável, um grupo de freiras polacas
começou a rezar pela cura, pedindo a intercessão de Wyszyński.
A beatificação do cardeal estava marcada para 7 de Junho de 2020, em Varsóvia,
mas, no final de Abril, decidiu-se adiá-la, para uma data a ser especificada,
devido à pandemia de coronavírus.
Durante o Ângelus dominical de 29 de Maio de 1994, João Paulo II, recém-saído
da Policlínica Gemelli (onde esteve internado, durante vinte e nove dias, de 29
de Abril a 27 de Maio, devido à fractura do fémur da perna direita), dirigiu,
aos fiéis, palavras, tornadas célebres, que sintetizam bem a sua relação com
Wyszyński: «Gostaria que, através de Maria, fosse expressa, hoje, a minha
gratidão por este dom do sofrimento ligado, novamente, ao mês mariano de Maio. Quero
agradecer por este dom. Compreendi que é um dom necessário. O Papa tinha de
estar na Policlínica Gemelli, tinha de se ausentar desta janela por quatro
semanas, quatro domingos, tinha de sofrer: como teve de sofrer há treze anos
[em 1981, depois do atentado, n.d.r], assim também este ano. Meditei, pensei
sobre tudo isso, novamente, durante a minha hospitalização. E reencontrei ao
meu lado a grande figura do Cardeal Wyszyński, Primaz da Polónia (cujo décimo
terceiro aniversário da morte ocorreu ontem). No início do meu pontificado, ele
disse-me: “Se o Senhor te chamou, deves introduzir a Igreja no Terceiro Milénio”.
Ele mesmo introduziu a Igreja, na Polónia, no segundo milénio cristão. Assim me
disse o Cardeal Wyszyński. E compreendi que devo introduzir a Igreja de Cristo
neste Terceiro Milénio com a oração, com várias iniciativas, mas vi que não basta:
era necessário introduzi-la com o sofrimento, com o atentado de há treze anos e
com este novo sacrifício. Porquê agora, porquê neste ano, porquê neste Ano da Família?
Precisamente, porque a família é ameaçada, a família é atacada. Deve ser
atacado o Papa, deve sofrer o Papa, para que cada família e o mundo vejam que
há um Evangelho, diria, superior: o Evangelho do sofrimento, com o qual se deve
preparar o futuro, o terceiro milénio das famílias, de cada família e de todas
as famílias».
É difícil, hoje, não ter nostalgia destes gigantes da fé.
Aldo Maria Valli
Através de Radio Roma Libera
quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
A conversão, a 20 de Janeiro de 1842, de Afonso Ratisbonne
A
fisionomia de Afonso Ratisbonne é de uma pessoa que tomou uma resolução firme.
O porte, o corpo, todo o conjunto é de um homem possante, que enfrenta qualquer
dificuldade. Até pela postura das mãos e dos braços se percebe um homem de
decisão forte.
Não aparenta introspecção alguma, está completamente posto no mundo exterior,
na objectividade, na verdade. Sem devaneios, pois entende que a vida não é
feita de ilusões; tem o brio de um gigante na presença de Deus. Estes aspectos
revelam a sua grandeza de alma.
O P. Afonso Ratisbonne tem algo de bíblico, Moisés poderia ser assim. Esta
fotografia é benfazeja, como também o é a de São Charbel Makhlouf. Mas a
fisionomia de São Charbel lembra a de um profeta, enquanto a de Ratisbonne
lembra muito a de um legislador.
Como legenda desta fotografia, poder-se-ia escrever: o varão a quem apareceu
Nossa Senhora do Milagre. Dessa aparição resultou a conversão que impregnou
essa fisionomia com algo de exorcizante. Mil morcegos e mariposas da dúvida, da
incerteza, da moleza, da introspecção e da cupidez fogem da presença dele.
Este é um verdadeiro católico, nem um pouco tolo, pois sabe o que deseja.
Compreende inteiramente a malícia dos revolucionários e como deve ser o combate
aos maus. Era um homem riquíssimo, frequentava a melhor e mais alta
aristocracia. A sua conversão do judaísmo ao catolicismo deslocou-o desse
ambiente para tornar-se sacerdote. O amor que ele tinha a si mesmo,
transferiu-o a Deus Nosso Senhor com todas as suas potencialidades colocadas
inteiramente ao serviço do amor de Deus.
Plinio Corrêa de Oliveira, in Catolicismo, n.º 841, Janeiro de 2021
terça-feira, 19 de janeiro de 2021
Canadá, hospício rejeita a eutanásia. Despejo está próximo
O título
poderia ser “Ou mata ou fecha”, mas descreveria apenas em parte o absurdo da
história. Na Colúmbia Britânica, a mais ocidental das províncias do Canadá, há
um hospício de inspiração cristã que foi forçado a enviar avisos de despedimento
aos seus funcionários porque se recusa a praticar a eutanásia e está em
processo de despejo. Falamos do Irene Thomas Hospice, uma estrutura, com dez camas,
localizada na cidade de Delta e administrada pela Delta Hospice Society (DHS).
O terreno onde fica o hospício, que opera desde 2010, é propriedade da Fraser
Health – a autoridade sanitária local que atende cerca de 1,8 milhão de pessoas
–, com a qual a DHS havia assinado, na época, um contrato de arrendamento e de
serviço, com uma duração de 35 anos, incluindo empréstimos anuais para cobrir boa
parte dos custos de funcionamento. Em 2020, a Fraser Health anunciou o
cancelamento dos efeitos do referido contrato a partir de 25 de Fevereiro deste
ano. E isto acontece, como explicaram os responsáveis da DHS, num comunicado à
imprensa, «simplesmente porque nos recusamos a eutanasiar os nossos
pacientes».
A controvérsia surgiu na sequência da aprovação, em Junho de 2016, da chamada “Medical
assistance in dying” (Maid), ou seja, a lei nacional sobre a eutanásia e o
suicídio assistido. É prevista, no papel, uma forma genérica (não absoluta) de
objecção de consciência, mas as províncias e os territórios do Canadá também
podem fornecer regras adicionais em relação aos termos gerais da lei, desde que
não entrem em conflito com o código penal (ver aqui).
Desde que ocorreram tais mudanças, que viraram o paradigma de cuidado do
paciente, a Fraser Health tem procurado impor a Maid, nas várias estruturas que
se enquadram no seu raio de acção, com tácticas de “bullying”, como foram
chamadas. Mesmo profissionais de destaque tiveram de se adaptar ou mudar de área.
Como o Dr. Neil Hilliard que, a 19 de Dezembro de 2017, renunciou ao cargo de
director do programa de cuidados paliativos da Fraser Health, não a partilhando
a sua viragem mortífera e, em particular, a imposição da eutanásia mesmo nas unidades
de cuidados paliativos e nos hospícios. Na carta com que agradecia aos colegas
pelo apoio recebido em quatro anos de trabalho, Hilliard citou seja o pai dos
cuidados paliativos no Canadá, Balfour Mount (ainda vivo e fortemente contrário
à manipulação contida na expressão “morte medicamente assistida”), seja a
fundadora dos modernos hospícios, a inglesa Cicely Saunders (+2005), que defendia
a necessidade de uma autêntica relação de cuidado até à morte natural.
Voltando ao caso da Delta Hospice Society, o seu conselho de administração referiu que se, por um lado, «o fornecimento da Maid é, no Canadá, um serviço de
escolha legal», por outro, «nada na legislação canadiana, no entanto,
exige que a morte medicamente assistida esteja disponível em qualquer lugar, a
qualquer hora e para todos». A mostrar o quão especiosa e persecutória é a
acção contra a liberdade do hospício, há o facto de que, a poucos passos – menos
de quinhentos metros –, está o Hospital Delta, que já pratica (infelizmente) a
eutanásia. Em vez disso, «a Constituição da nossa Sociedade privada – explica
a DHS – e o nosso compromisso com os cuidados paliativos impede-nos de oferecê-la
[a eutanásia, n.d.r]. Nem o conselho de administração da DHS, nem a esmagadora
maioria dos nossos pacientes e membros querem mudar isso», isto é, os
princípios do hospício.
Precisamente à luz de tal cultura da vida, a DHS tentou obter o reconhecimento,
pela via judicial, da possibilidade de rejeitar os pedidos dos doentes que
pretendam aceder à estrutura, mas que sejam favoráveis à obtenção da “morte
assistida” e, logo, em desacordo com a moral cristã, que está na base do mesmo
hospício. Mas, até agora, foi uma tentativa em vão (em Novembro de 2020, o caso
foi perdido no Tribunal de Apelo provincial), conforme refere o Vancouver Sun.
Esta história recorda o abismo que traz consigo a ideia de que a morte
procurada – isto é, o suicídio/homicídio – seja um “direito”. A alegada
liberdade de uma minoria, quer dizer, a institucionalização da sua escolha
(onde esta não seja imposta ao paciente) por um mal intrínseco – seja a
eutanásia ou outras alegadas “conquistas” da sociedade moderna – traduz-se,
gradualmente, numa obrigação generalizada, típica das ditaduras, de fazer o
mal. Pelo menos, enquanto não houver uma providencial inversão de direcção.
Ermes Dovico
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
O absurdo acontece
A pedido do próprio, o portal Dies Iræ
publica uma mensagem que Artur Mesquita Guimarães, que ficou conhecido por, tal
como é seu dever enquanto pai, não permitir que os seus filhos, brilhantes
alunos, frequentassem a diabólica “disciplina” de “Cidadania e Desenvolvimento”.
Como resultado, os estudantes foram reprovados por faltas e, desde então,
tem-se arrastado um longo processo judicial. Rezamos por esta família e pedimos
a todos os leitores que também o façam!
Brufe,
Vila Nova de Famalicão, 10 de Janeiro de 2021
São
inúmeras as pessoas que assistem com expectativa ao caso relacionado com os
nossos filhos e a escola, que suscitou diversos artigos e notícias ao longo de
todo o verão passado, pelo facto de os nossos filhos não frequentarem as aulas
da disciplina, recentemente criada (ano lectivo de 2018/2019), de “Cidadania e
Desenvolvimento”, conforme indicação que demos à escola oportuna e
atempadamente – todo o desenvolvimento deste processo pode ser apreciado em www.plataforma-rn.org.
Muitos dos nossos amigos e outras pessoas têm procurado saber qual a situação
do processo!
De facto, nós, sensivelmente de Outubro a esta parte, mantivemos silêncio sobre
o assunto por respeito a uma tentativa de conciliação promovida pelo Tribunal
Administrativo e Fiscal de Braga, onde intentamos uma acção contra o Ministério
da Educação e o Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco, de Vila Nova de
Famalicão, tentativa cujas diligências decorreram ao longo de quase dois meses,
sem que, efectivamente, fosse alcançado qualquer acordo.
No âmbito deste processo, mercê das providências cautelares interpostas em
simultâneo, foi suspensa a retensão e retrocesso do Tiago e do Rafael para o
ano lectivo que frequentaram em 2018/2019 (do qual haviam transitado com média
de “5”), conforme determinara o Despacho emitido pelo Sr. Secretário de Estado
Adjunto e da Educação, Dr. João Costa.
Até aqui, tudo previsível e nada de novo.
Pela nossa parte, de consciência plenamente tranquila, aguardamos serenamente
que se faça justiça!
Agora, a novidade é que, curiosamente, fomos confrontados com um processo
instaurado pela CPCJ no Ministério Público, pouco depois da caricata notícia
vinda a público no Observador a 9 Setembro 2020[1]
(nosso pronto comentário a esta notícia[2])
em que pouco mais de duas mãos cheias de deputados do PS se mostraram
indignados por nem todos alinharmos na sua cartilha! O preço a pagar pela
defesa dos nossos direitos, liberdades e garantias!
O absurdo acontece: os nossos filhos, Tiago e Rafael, foram efectivamente
tomados como reféns pelo Despacho acima referido, emitido pelo Sr. Secretário
de Estado Adjunto e da Educação, Dr. João Costa, num processo sem precedentes
que até contraria a apregoada sensibilidade do Sr. Ministro da Educação do
mesmo Governo quanto à discriminação dos jovens que, por qualquer motivo,
fiquem retidos no ano lectivo!
Lamentavelmente, por nos nortearmos pelos princípios da vida civilizada,
vemo-nos a braços com acções de perseguição e de caracter intimidatório,
perpetradas por organismos do Estado. No caso, na primeira linha esteve o
Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco, de Vila Nova de Famalicão que, ao
contrário de se colocar ao serviço dos pais e das famílias, os tratam como
inimigos.
Um escândalo!
Pois bem, a todos os que nos acompanham e se preocupam com este processo, que
afecta directamente a nossa família de forma séria e grave (chegará o momento
em que alguém terá de responder por isto!), queremos manifestar o nosso sincero
agradecimento e dizer-vos que o vosso estímulo nos anima, conforta e fortalece.
Esperamos estar à altura das nossas responsabilidades e de sermos capazes de
defender os nossos direitos, liberdades e garantias, pela obrigação que temos
de proteger o bem e o melhor para os nossos filhos.
Continuamos a contar com todo o vosso apoio.
Artur Mesquita Guimarães
[1] https://observador.pt/2020/09/09/ps-questiona-intervencao-da-comissao-de-protecao-de-jovens-no-caso-da-disciplina-de-cidadania-e-desenvolvimento/
[2] https://www.plataforma-rn.org/2020/09/11/noticias-e-artigos-que-merecem-resposta/
A verdadeira mensagem cristã das catacumbas
Pela
palavra “catacumbas” entende-se, muitas vezes, uma época da história; os três
primeiros séculos da Igreja, quando os cristãos foram perseguidos, até que o
Édito de Milão, do imperador Constantino (313 d.C.), lhes deu plena liberdade
para praticar e difundir a própria fé. Os católicos progressistas contrapõem a
Igreja das catacumbas, pobre e sofredora, à Igreja constantiniana, poderosa e
conquistadora. Nessa linha, a 16 de Novembro de 1965, poucas semanas antes da
conclusão do Vaticano II, foi assinado, por 42 Padres Conciliares, nas Catacumbas
de Domitila, um “Pacto para uma Igreja serva e pobre”, de cunho filocomunista.
O “Pacto das Catacumbas” foi publicamente comemorado, a dia 20 de Outubro de
2019, no mesmo lugar, por um grupo de bispos e leigos, que propuseram à Igreja
um novo “Pacto das Catacumbas pela casa comum. Por uma Igreja com rosto amazónico,
pobre e servidora, profética e samaritana”. O pacto sociopolítico da década de 60
tornou-se, assim, o pacto sócio-cósmico da era do Papa Francisco e de Greta
Thunberg.
Do lado oposto, alguns conservadores elaboraram uma “filosofia das catacumbas”,
segundo a qual, diante do inimigo que ataca, não se deve combater, mas esconder-se,
como fizeram os cristãos dos primeiros séculos, que se teriam refugiado nas
catacumbas para escapar das perseguições. Na realidade, os primeiros séculos da
Igreja foram uma época de perseguições e de martírio, mas foram, precisamente
por isso, uma época de luta, conduzida, primeiro, pelos Apóstolos e, depois,
pelos seus sucessores, para cumprir o mandato de Cristo, que era o de difundir,
abertamente, o Evangelho até aos confins da terra. A Igreja dos primeiros
séculos não foi uma Igreja oculta ou clandestina; os cristãos eram conhecidos
como tal, as autoridades (bispos, sacerdotes, diáconos) eram conhecidas, as
ideias eram manifestas.
Os cristãos viviam nas próprias famílias, exerciam as suas profissões, pagavam os
impostos, serviam no exército, respeitavam as leis e rezavam pelo poder constituído,
mas não veneravam o Imperador e não estavam dispostos a sacrificar aos ídolos
pagãos. Esta foi a razão pela qual foram julgados “inimigos do Estado” (hostes
publici) e perseguidos. As catacumbas não eram lugares escondidos onde os
cristãos se ocultavam, mas cemitérios, áreas sepulcrais onde eram sepultados. O
direito romano, de facto, reconhecia, indiscriminadamente a todos, o Jus
sepulchri, mesmo aos condenados, cujos restos mortais o juiz poderia mandar
entregar a quem os solicitasse para o sepultamento.
O termo catacumbas vem do grego katà (próximo) e kumbas (lugar
profundo) e surge do facto de que, no início do século III, um grupo de
cristãos conseguiu escavar, numa depressão do terreno da Via Ápia, regina
viarum, uma rede de galerias subterrâneas para estabelecer um cemitério.
Toda a zona era chamada “perto do vale” e o nome “catacumbas” vem, por isso, do
aspecto do lugar. Aqui foi deposto o mártir São Sebastião e, desde o ano 258, venera-se
uma memória dos Apóstolos Pedro e Paulo. Depois do século IV, a palavra
catacumbas passou a indicar, genericamente, os cemitérios cristãos, onde os defuntos
aguardavam, na terra, o supremo despertar. O dogma da ressurreição, que constituía
o fulcro da fé da Igreja nascente (1 Cor 15, 5-8), era um dos conceitos mais
difíceis para os pagãos, como nos atesta Tertuliano (De ressurrectione carnis,
2: Migne, PL 2, 843).
O desenvolvimento das primeiras comunidades cristãs de Roma é documentado pela
multiplicação dos seus cemitérios nas estradas consulares. As catacumbas de São
Calisto, na Via Ápia, como as de São Sebastião, foram o cemitério oficial da
Igreja de Roma no século III. Cerca de meio milhão de cristãos foram nele
enterrados, incluindo centenas de mártires e dezasseis pontífices. O seu nome
vem do diácono que, no início do século III, foi preposto, pelo Papa Zeferino (199-217),
«guardião e administrador da catacumba» (cf. Antonio Baruffa, Le
catacombe di San Callisto. Storia-Archeologia-Fede, 5.ª ed., Libreria
Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano, 2004). Além disso, na primeira metade do
século III, Roma foi dividida em sete regiões eclesiásticas. Cada uma delas
recebeu locais de culto e diversas catacumbas para o sepultamento dos cristãos.
Aumentavam as galerias, mas como eram limitadas as áreas em superfície,
abriam-se novas escadas para descer ainda mais profundamente no terreno.
Um precioso calendário ilustrado, denominado Cronógrafo de 354, contém dois
elencos ditos depositio Episcoporum e depositio Martyrum, nos
quais, com exactas indicações topográficas, são indicados os locais e os dias
das comemorações litúrgicas dos mártires cristãos. Entre os cemitérios cristãos
de Roma são mencionados os de Balbina, Bassilla, Massimo, Ponziano, Pretestato,
Trasone, correspondendo a nomes de privados cristãos que colocaram a área
sepulcral de família à disposição dos fratres. Desde a primeira pregação,
efectivamente, o Evangelho havia penetrado em algumas famílias nobres e ricas que
dividiram, caridosamente, os seus túmulos, bastante amplos, para acolher a sua
nova parentela espiritual.
Roma acolhe, em quase todos os cemitérios, as testemunhas da fé cristã: mártires
são aqueles que deram testemunho de Cristo com o sacrifício da vida, confessores
são aqueles que, salvando-se, proclamaram a própria fé.
Foi dito que os cemitérios cristãos de Roma são o monumento mais notável da
caridade exercida pela comunidade primitiva. Tertuliano escrevia, no seu Apologeticum,
que a comunidade cristã recolhia as ofertas espontâneas dos fiéis (egenis
alendis humandisque) e Hipólito, que dedica um parágrafo inteiro da sua Apostolica
Traditio aos cemitérios, recomenda não cobrar uma taxa alta demais para o
sepultamento, porque o cemitério pertence a todos os pobres e o bispo deve manter
aqueles que cuidam deste lugar, para que não dependam dos que ali estão
depostos. Lactâncio declara, por sua vez: «Jamais toleraremos que uma criatura
feita à imagem de Deus seja lançada aos animais ou às aves de rapina, mas restitui-la-emos
à terra de onde foi tirada; também para um desconhecido cumpriremos o ofício
que caberia aos seus familiares, porque, na sua ausência desses, toma o lugar a
caridade» (Divinæ Institutiones VI, 12: Migne, PL 4,
682).
Roberto de Mattei
Através de Radio Roma Libera
domingo, 17 de janeiro de 2021
A história de Santo André, em afresco, em Roma
«No
dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos.
Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: “Eis o cordeiro de Deus!”.
Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus» (Jo 1,
35-37).
Sant’Andrea della Valle é uma basílica do centro histórico de Roma, construída onde
se encontrava a Igreja de São Sebastião Mártir, local presumido da sua primeira
sepultura. Vangloriando-se da categoria de basílica menor, existe o homónimo
título cardinalício e é oficiada, hoje como então, pelos Clérigos Regulares Teatinos,
uma ordem, nascida nas primeiras décadas do século XVI, para restaurar as primitivas
regras da vida apostólica. Na verdade, é intitulada a um apóstolo: André, irmão
de Simão Pedro, que foi discípulo de João Baptista antes mesmo de o ser de
Jesus.
A construção do espaço interior, com nave única com transepto e capelas
laterais, mostra-se como um típico exemplo do espírito contra-reformista,
enquanto a sua decoração deve ser considerada uma perfeita expressão do barroco
romano: especialmente na zona do presbitério onde, na segunda década do século
XVII, trabalharam dois mestres, ambos emilianos, Domenico Zampieri, conhecido
como o Domenichino, e Lanfranco. E se a este último se deve a extraordinária vista
da cúpula, mérito do primeiro são os afrescos da abóbada e do arco absidal.
A iminente celebração do Jubileu de 1625 foi a ocasião em que o Cardeal
Alessandro Peretti Montalto, sobrinho de Sisto V, encomendou os afrescos ao
bolonhês Zampieri que, tendo montado os andaimes em 1623, os removeu, definitivamente,
em 1628. Domenichino distribuiu as histórias de André, como se fossem quadros,
dentro de partituras definidas por preciosos estuques dourados, conferindo uma precisa
ordem à narração. A Glorificação do Santo, na luneta, é a conclusão de uma vida
vivida no seguimento de Cristo, pelo amor de Quem André passou pela experiência
do martírio, devidamente referido pelo fresquista. Tudo começou, porém, num
preciso instante, no momento em que ele viu Jesus pela primeira vez.
Como acontece sempre, é outra pessoa que nos diz para onde olhar: no centro da
cena, o Baptista, sentado sobre uma rocha, com o braço direito estendido para
Cristo, que aparece nas costas, mostra a André e a um outro discípulo Quem seguir.
A outra mão, batendo no peito, torna explícita esta mensagem: já não ele, mas
um Outro, Aquele que se vê ao longe. Um cordeiro aos pés de João faz ecoar, em
primeiro plano, as suas conhecidas palavras: “Ecce Agnus Dei!”.
A paisagem rochosa, o verde escuro dos ramos da árvore, entre os quais se
avista o leito do rio Jordão, o céu sulcado por um turbilhão de nuvens
carregadas de chuva, amplificam a gravidade do momento em que a presença de um
anjo em voo, por pouco realista, confere a certeza da presença divina.
Que André compreende, como se pode ver pelos seus braços estendidos em sinal de
total confiança. A Verdade, quando a encontramos, reconhece-se e não se pode
silenciar: o gesto do apóstolo envolve, de facto, o seu companheiro mais
hesitante, para que também ele, finalmente, veja.
Margherita del Castillo
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
sábado, 16 de janeiro de 2021
Quando os bispos portugueses decidiram hibernar...
No
passado dia 14 de Janeiro, um dia depois de terem sido comunicadas, pelo
Governo português, as medidas para o novo “confinamento geral” e quando a
Igreja, segundo a liturgia tradicional, fazia memória de Santo Hilário, corajoso
bispo do século IV, os, pelo contrário, temerosos bispos portugueses, por meio
de um comunicado do Conselho Permanente da supervacânea Conferência Episcopal,
ordenaram a suspensão ou o adiamento, «para momento mais oportuno, quando a
situação sanitária o permitir»[1],
dos Baptismos, dos Crismas e dos Matrimónios. Mesmo que o Governo socialista
(pasme-se!) tenha “permitido” as celebrações religiosas, os lânguidos prelados
optaram, «conscientes da gravíssima situação de pandemia que vivemos neste
momento»[2],
por se tornar, uma vez mais, subservientes aos poderes mundanos, descurando,
assim, por completo, a reverência e a obediência que devem a Deus e que juraram
aquando da ordenação sacerdotal. Já se percebeu que, desafortunadamente, os
bispos lusos, sem qualquer excepção, preferem dar-se bem com todos em
detrimento da defesa dos direitos divinos e da salvação das almas. De mais a
mais, não foi por acaso que, por ocasião da protestantizante “reforma
litúrgica”, a festa de Cristo Rei, que até então se celebrava no último domingo
de Outubro, foi mudada para o final do ano litúrgico. Há muito que, para estes
clérigos, a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo foi mandada para canto.
Procurando “escudar-se” com a desculpa do COVID-19, que dá imenso jeito para
muita coisa, os bispos privam as crianças de serem baptizadas, esquecendo-se,
supõe-se, que a salvação das almas não ficou suspensa enquanto esta «gravíssima
situação de pandemia»[3]
se mantiver. Bem pelo contrário, esta é mais uma oportunidade que Deus nos dá
para nos arrependermos e convertermos. Por acaso, alguém se esqueceu dos tantos
doentes que morreram sem os últimos Sacramentos? Onde estava a Conferência
Episcopal quando os capelães hospitalares foram proibidos de administrar os
Sacramentos aos enfermos e moribundos? Onde estava a Conferência Episcopal
quando os párocos, salvo raras e edificantes excepções, fecharam as suas
igrejas e se evaporaram das comunidades que lhes foram confiadas? É a esse
“cheiro a ovelha” que se referem? Nesse caso, ao contrário daquilo que disse
Nosso Senhor, os pastores preferiram, em nome da saúde do corpo, abandonar à
própria sorte o seu rebanho, comprometendo, deste modo, e em muitos casos
irremediavelmente, a saúde da alma! Falharam, falharam em toda a linha e só
voltaram, de forma sorrateira, quando se aperceberam da enorme quebra económica
que os atingiu. De vez em quando, convém avivar a memória: «Está escrito: A
minha casa há-de chamar-se casa de oração, mas vós fazeis dela um covil de
ladrões» (Mt 21, 13). E o que dizer, então, da suspensão ou do adiamento
dos Baptismos? Como me dizia um sacerdote, por ocasião da publicação do ominoso
texto episcopal, teria sido esta a ocasião adequada para se fazer catequese e
consciencializar os pais e educadores das crianças para o dever de as baptizarem
mesmo na ausência de um sacerdote. Diz o Código de Direito Canónico, na versão
de 1983: «Na ausência ou impedimento do ministro ordinário, baptiza
licitamente o catequista ou outra pessoa para tal designada pelo Ordinário do
lugar, e mesmo, em caso de necessidade, qualquer pessoa movida de intenção
recta; os pastores de almas, em especial o pároco, sejam solícitos em que os
fiéis aprendam o modo correcto de baptizar» (861 § 2). Ora, os pastores
não só não consciencializaram os fiéis deste dever moral, como não falam dele.
Pecam por omissão, assim como peca contra a caridade todo aquele que condena
uma criança a viver na incerteza do seu destino último!
Como se pode constatar, os bispos decidiram hibernar e, a par disso, optaram
por confinar os Sacramentos, principalmente aquele que é imprescindível para a
salvação da alma. Desgraçadamente, estão mais preocupados com o COVID-19 do que
com os 48 milhões de bebés que, em 2020, foram brutalmente assassinados, pelo
aborto, no ventre materno. Logo, o que mais importa, pelo que vemos, é ser submisso
ao príncipe das trevas do que ao Rei dos Reis! Oportunas são, nesta ocasião, as
palavras do já aludido Santo Hilário: «Tu combates contra Deus, tu
desembestas-te contra a Igreja, tu persegues os santos, os pregadores de
Cristo, tu esmagas a religião, tirano não mais em matéria profana, mas em
matéria religiosa»[4].
A Santíssima Virgem, porta do céu, nos livre de, em momento algum, estas
palavras nos serem dirigidas!
D.C.
[1] http://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/comunicado-do-conselho-permanente-da-cep-sobre-o-novo-confinamento-c-audio/
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] Contra
Constantium Augustum liber.
Quatro lições a tirar, à esquerda, da violência no Capitólio
A
violência no Capitólio já entrou na história como um evento dramático e de
carácter emotivo. O debate sobre as temáticas e os detalhes envolvidos ainda enfurece.
Todavia, no tribunal da opinião pública, a narrativa final reflecte-se,
negativamente, sobre o presidente Trump e os seus apoiantes.
Independentemente do valor das questões em discussão, é possível tirar deste
incidente algumas lições à esquerda. Estas lições deveriam orientar a acção
futura, pois as regras do jogo da futura administração exigirão aos
conservadores que ajam com sabedoria e discernimento. A forma como a esquerda
capitalizou este incidente deveria servir para tornar mais cautelosa a direita.
O relativismo moral da esquerda
A primeira lição a aprender é que as formas de funcionamento da esquerda são
diferentes daquelas da direita. O relativismo moral da esquerda permite-lhe que
seja selectiva ao qualificar algo como errado. A esquerda radical ensinou
sempre que o fim justifica os meios. Os seus seguidores acreditam que não exista,
objectivamente, certo ou errado. Tudo o que faz avançar a sua revolução é moral
e louvável; tudo o que estorva a revolução deve ser desprezado e caluniado.
Logo, o ataque ao Capitólio foi um acto errado que deve ser censurado. Porém,
não esperem que esta censura seja aplicada a todos os actos desse género. Não serve
de nada confrontar o incidente no Capitólio com as centenas de revoltas, “geralmente
pacíficas”, aprovadas pela esquerda e que causaram danos, estimados em 2
biliões de dólares, durante o Verão. Os conservadores apontarão em vão milhares
de citações e vídeos inflamados de políticos esquerdistas que justificam e corroboram
a agitação civil durante 2020. Para a esquerda, não fará diferença alguma, já
que aquelas acções favoreceram a sua revolução.
Este é o modo de agir da esquerda. Não é correcto, mas é assim.
Não esperem que a esquerda seja coerente, porque o seu relativismo moral
permite-lhe que escolha o que defende. Não esperem que estejam comovidos com as
feridas e as mortes das vítimas conservadoras, pois esses pobrezinhos não têm
valor algum na sua narrativa revolucionária.
Portanto, os conservadores dever-se-iam comportar sabendo que os seus actos
serão injustamente examinados e que a esquerda infringirá as regras
impunemente.
Para a esquerda, apenas a direita deve ser responsabilizada
A segunda lição é que o relativismo moral da esquerda desaparece quando se
julgam as acções da direita. Na verdade, a esquerda radical cravará a direita
aos mais altos padrões da moralidade cristã (nos quais não acredita nem segue).
O seu nível de indignação moral para com os erros da direita será sempre
inversamente proporcional à sua indiferença para com a violência de esquerda. A
esquerda não apenas tomará nota de cada erro da direita, mas também fará com que
uma boa crise não seja desperdiçada.
Quando a direita fizer algo de errado ou ilegal, esperem que os media e a
esquerda hipócritas caiam, sob estas acções, com fúria e que rasguem as vestes.
Nenhuma quantidade de desculpas será suficiente para redimir seja quem for.
Nenhuma quantidade de respeitos dirigidos aos media liberal os fará
esquecer.
A esquerda sabe que a direita não é moralmente relativista e admitirá os
próprios erros como tal. Portanto, os conservadores deveriam agir sabendo que
serão julgados de acordo com este duplo padrão. Verificando-se um erro, deveriam
admiti-lo com calma, mas sem permitir que isso oprima e domine o debate.
Não responder do mesmo modo
A terceira lição é que a direita nunca pode adoptar a táctica e o modus
operandi da esquerda. Tais acções são contrárias às suas convicções morais
e estão destinadas ao fracasso. Qualquer falha no relativismo moral priva os
conservadores da força da sua causa, que reside na estrita adesão à lei moral.
À vista disso, se a esquerda recorre a mentiras, vulgaridades e insultos para
difamar indivíduos ou causas, a direita não pode responder do mesmo modo. Tais
meios actuam em sentido oposto aos fins que deveriam orientar as suas acções.
Os conservadores não podem recorrer a revoltas e violências simplesmente porque
a esquerda se serve de tais crimes.
Deve ser mantida uma oposta política de discurso civil e cortês. Esta política
não exclui respostas firmes, enérgicas e até apaixonadas. Todavia, deve ser
sempre regida pela razão. Na verdade, adoptar uma atitude forte eleva o debate
e atrai a opinião pública.
Os mais altos padrões de comportamento
Finalmente, a melhor maneira de os conservadores vencerem o debate é estar à
altura dos mais altos padrões de comportamento. Não devem dar pretextos à outra
parte para atacá-los. O melhor modo de promover a causa é fazer um apelo
racional a fortes princípios morais. Uma nobre reacção impressionará sempre
mais o público do que uma multidão alquebrada.
Por este motivo, quanto mais clara for a mensagem, melhor. Quanto mais baseada
em princípios for uma posição, maiores são as possibilidades de sucesso. Quanto
menos pessoal for o ataque, maior será o impacto que terá. Não se deveriam
secundar nem os absurdos politicamente correctos, nem a identity politics
(n.d.r.: políticas a favor das minorias activistas como LGBT, Black Lives
Matter, Cancel Culture, etc.).
A esquerda continua a esconder os seus objectivos e a obscurecer a sua nefasta
mensagem. A melhor maneira para a vitória é insistir na mensagem. A esquerda
perde quando os seus objectivos são denunciados (como tirar os fundos à polícia
ou promover o socialismo). Os conservadores devem perseverar em discutir estes
objectivos e as doutrinas a eles associadas. Devem evitar os debates que
degeneram em ataques ou insultos pessoais em série.
Uma atitude ponderada de acção deliberada
O que é necessário é uma atitude ponderada de acção deliberada com um tom “washingtoniano”
(n.d.r.: George Washington era conhecido pelo seu tom elevado e sóbrio). O
futuro pertence àqueles que não têm medo de afirmar (e praticar) a moral
cristã, denunciar os esquemas socialistas e desafiar o politicamente correcto.
O establishment esquerdista e os media afirmam que estas posições são
retrógradas e pouco atraentes. Não obstante, se apresentadas de modo enérgico e
sem complexos, têm um imenso fascínio, pois baseiam-se na natureza humana e na
lei moral. A condição humana é adequada e atraída pelo comportamento moral, já
que conduz à unidade e à harmonia. O pecado e o vício agem contra a natureza
enquanto levam à desarmonia e à autodestruição.
No meio da crise que a América está a enfrentar, torna-se mais crucial do que
nunca confiar em Deus. Dado que o pecado agora domina a sociedade, as soluções meramente
humanas falharão. Apelar a Deus e à sua Santíssima Mãe é o único modo para se
afastar do caminho para o desastre. Qualquer outra estratégia política que
exclua este apelo está destinada a falhar.
John Horvat II
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